quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Sendo




Nando Araujo
Filosofia / musicologia


Não sou filósofo, mas penso. E, pelo pensar desmedido, contemplo suas almas. Assim, filosofando, rio dos que simploriamente indagam se a minha fala é filosófica. Do riso emerge em mim o filósofo. Não sou músico, mas entre instrumentos ditos musicais, produzo descabidas melodias, faço-me músico. Não sou professor, mas aprendendo a aprender, ensino. Ensinando, atribuem a mim tal papel existencial. Aceito, leciono. Não sou pai, mas ao exercer a terapêutica da paternidade, auto-imputada, vejo em mim o pai que sempre fui. Não sou marido, mas amando a minha mulher me transformo em seu amante. Amo-a como um homem deve amar, e nada mais. Não sou filho, mas nascido do ventre da minha mãe, me concebo como sua cria. Não sou poeta, mas, cotidianamente, olho com os olhos da insanidade para escapulir da normal vida prosaica que tenta igualar os desiguais por essência. Assim, vivo, poetando vivo. Não sou virtuoso, mas reconhecendo e aceitando as minhas imperfeições, aconchego-me junto a excelência humana. A virtude? Uma força que faz algo excelente. Qual é a excelência do homem? Não sou político, pois ao reconhecer o papel da Polis não me confundo e tampouco desejo sobrepujar-me a ela. Percebo-me, dessa forma, como político. Não sou sábio, tampouco tolo, pois reconheço o tamanho da minha ignorância. E assim não ignoro a minha porção carente que faz da Philía a minha Sophía. Não sou o que tentaram fazer de mim. Desculpem-me, não resultou correto! Não sou o que tentei fazer de mim; um engano. Assim, expurgo tais idéias adventícias. E ao desnudar-me delas, quem surgirá? Não sou corajoso, mas sem medo enfrento o meu pior inimigo, eu mesmo. E assim morro por mim, para que eu possa viver. E, ao escolher uma vida, morro para tantas outras. Não sou homem, tampouco mulher. Não sou Santo, tampouco Daimon. Não sou nada, tampouco tudo. Não sou o seu inferno, pois o meu olhar transcende a sua imagem que a mim chega, mas também não sou o seu paraíso. Portanto, não se ocupe comigo, pois sigo apenas sendo.

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