domingo, 16 de novembro de 2008

Urbano

Ontem no 2o Sarau Eleituras- "Vida urbana" acabei esquecendo meu texto em casa. Fiz uma busca nas minhas coisinhas para achar algo que tivesse um pouco de "urbano". Achei um ensaio de power point que escrevi sobre as duas cidades da minha vida, São Caetano do Sul e Ribeirão Preto. Um pouco de infância, de vida urbana e a minha relação com as palavras, as idéias e este monte de bobagem que a gente pensa. Nao deu para ler ontem, mas você poderá ler clicando aqui.
P.S. Steve Martin me inspirou escrever este texto.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Vida urbana

Vida , louca vida!

Pois é, nem bem nasce o dia e uma profusão de pernas, muitas pernas, alcança as ruas, os ônibus, os cafés, os bancos da praça dessa cidade. A vizinha já chegou da padaria e traz o cheiro da manhã com ela. No espelho, o jornal ao lado, você retoca a imagem, coloca os fios de cabelo no lugar, faz a barba, raspa a perna, confere a carteira, pega as chaves e sai roendo um pedaço de pão.

Aqui, em meio aos cães, verdadeiros donos das ruas, mulheres gordas de afazeres olham aflitas para o relógio enquanto os meninos descem a rua chutando a laranja que escapou do caminhão. Eu nunca tinha reparado naquela da esquina e me surpreendi ao ver a moça na janela. Me pareceu que eram outros tempos, mais amenos.

Melancolia, não dá tempo. Não há tempo.

Mais pernas, muitas pernas, minhas pernas. Botas, sapatos, sanálias, chinelos, sem eles, no calçadão, indagam, procuram, esmolam, se perdem. O rapaz vende cartão telefônico e a mocinha faz tererê, ambos têm uma casinha de 4 cômodos onde criam 5 cães e uma jibóia - elas comem os ratos, me diz ele. Ela se chama Suzi, a moça, não a cobra. Em frente ao bar, uma jovem de cabelos vermelhos fala ao telefone, o namorado, casado, não vem hoje. Ela vai sem ele.

Virando a esquina, tudo desaparece. Um silêncio quase palpável , não se respira. O salão está sem pernas, os quadros e livros olham com um rancor quase indiferente. Gente sem pernas assusta e é já quase agora. Lmebre-se de sorrir para o moço de uniforme, ele anda de mau humor e não gosta de conversas sem pé nem cabeça.

Esse cheiro de fumaça, essa linha escura que vem subindo, o cão que olha e analisa. São horas e a moça já não está na janela. Dobro o jornal, guardo a caneta. A manhã, amanhã vai ser.