sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Sobre Dante



Sem dúvida, A Divina Comédia é uma das principais obras do ocidente. Muitas e muitas vezes encontramos referências a essa obra nas mais inusitadas formas de expressão. Recentemente, um game com o sugestivo nome O inferno de Dante tem causado alvoroço. As imagens, além de realistas, parecem carregar o espírito da época.

Mas, antes mesmo de falar de sua obra, vale conferir as informações acerca da vida de seu criador. Segundo José Pedro Xavier Pinheiro, tradutor da obra, Dante Alighieri nasceu em Florença, em maio de 1265, de dona Bella e de Aldighiero Alighieri. De família nobre e abastada, dedicou-se desde cedo aos estudos. Estudou letras, ciências, desenho e música. Mais tarde aplicou-se também à teologia.

Moço ainda, Dante participou da vida política da sua cidade. Em 1289, os exilados florentinos, juntando-se aos outros gibelinos de Toscana, tentaram invadir a República. O exército florentino deu-lhes batalha em Campaldino no dia 11 de junho de 1289, conseguindo derrotá-los. Dante participou destas operações militares, combatendo na cavalaria. Pouco depois, participou também do assédio ao castelo de Caprona.

Sendo necessário, para conseguir cargos da República, pertencer a uma corporação, Dante se inscreveu na dos médicos e farmacêuticos, que era a sexta entre as assim chamadas Artes Maiores. Sua atuação na vida pública foi brilhante. Conforme diz Boccaccio, em Florença não se tomava nenhuma deliberação sem que ele desse a sua opinião. Várias vezes foi embaixador da República, várias vezes pertenceu ao Conselho do Estado, e, finalmente, em 1300, obteve o cargo de “priore”, que era a suprema magistratura política de Florença.

Conforme ele mesmo diz, numa de suas cartas, as suas desgraças se originaram da sua eleição ao priorado. A cidade de Florença era dividida em dois partidos: os Brancos e os Pretos, que determinavam freqüentes conflitos, disso resultando que os priores, entre os quais Dante, resolvessem exilar alguns entre os cabeças, pertencentes às mais ilustres famílias de Florença.

Os Pretos, porém, encontraram uma ocasião propícia para obter o mando na cidade e oprimir os seus inimigos. Aproveitando-se da passagem por Florença de Carlos de Valois, irmão do rei da França, em viagem para Roma, conseguiram convencê-lo e convencer ao Papa Bonifácio VIII, de que os Brancos eram inimigos da Casa de França e da Cúria Romana. Os notáveis da cidade enviaram embaixadores ao Papa, e entre eles, Dante, para dissuadí-lo do intuito de entregar a cidade à parte mais facciosa. Bonifácio, porém, tergiversando, manteve os embaixadores florentinos na expectativa, enquanto Carlos de Valois empossava os Pretos no mando de Florença, resultando daí um período de violências e saqueios.

Maldizendo a perfídia da Cúria Romana, partiu Dante de Roma para voltar para a Toscana. Chegando, porém, nas proximidades de Florença, soube que os seus inimigos, acusando-o de ser gibelino, e, ainda, de ter-se aproveitado do dinheiro público, o tinham condenado ao exílio, e a pagar uma pesada multa e que as suas possessões haviam sido depredadas. Começou, então, para Dante, a vida dura do exilado e do perseguido que conhece

... come sa di sale
Lo pane altrui e come é duro calle
Lo scendre e ’l salir per l’altrui scale.

Mudando freqüentemente de cidade, servindo a vários senhores, viveu Dante os últimos anos de sua vida. Morreu, com a idade de 56 anos, em Ravena a 14 de setembro de 1.321.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Quem nunca pecou que atire a primeira pedra.








Amigos,



Acordei matutando sobre os sentidos da palavra "pecado" e confesso-lhes, também pequei. Pequei principalmente porque tive preguiça de abrir o dicionário e, porque achei que sabia o suficiente, continuei repetindo e pensando as mesmas coisas.
Nesta manhã, decidi que já era hora de pagar penitência e lá fui eu para estante procurar os meninos. No Aurélio, confirmei os sentidos de transgressão e desvio e por meio do dicionário etimológico acabei por entender aquelas conversas cifradas entre meu pai e minha mãe: "Fulana tropeçou feio!", "É, cuidado para não tropeçar você também!". Ora pois, pecar deriva do latim
peccare, que inicialmente significa isso mesmo: tropeçar (vulgo trupicar!). Daí para a correlação “tropeçar espiritualmente”, ou seja, "pecar" foi um pulinho (ou tropeção se preferirem!). Aliás, ando tropeçando muito ultimamente! Não, não se animem, não tropeço como aquela fulana de que minha falava, mas trupico feio com relação à atividade física e aos estudos, só para começar. A preguiça me espreita em cada esquina. E não têm adiantado ave-marias, credos, açoitamentos, joelhaço no milho ou cilício nas coxas. Mea culpa! A TV, o cinema, a piscina, a jardinagem, o shopping, o papo furado, o cafezinho, o pão-de-queijo, o vestido azul e o sapato dourado desviam-me do caminho da salvação. Vivo pelos corredores vigiando e orando, mas basta um insetozinho, um fagulha, uma notinha musical que escapa de um radinho distante e lá estou eu pecando. Quando não é a gula, vem a soberba. Quando quebro as pernas dessa maldita, vem a inveja me corroer os ossos. Mal fecho os olhos de seca-pimenteira, um torso bronzeado e bem definido me leva luxúria abaixo. Num átimo volto à lucidez e, muito avara de mim mesma, nego a atenção aos meus comparsas. Sim, porque pecar sozinha não tem muita graça! Basta uma escorregadela para que aquela minúscula farpa se torne uma trave e a raiva atávica de ter sido expulsa do paraíso se torne ódio puro e calculado que, num acesso de fúria, cega meus olhos de medusa e me torna a criatura mais irada do planeta - não, filhinho, irada, neste contexto, não é sinônimo de legal, cool, etc.
Enfim, já exausta e depois de me morder e remorder decido que é hora de redimir-me. Pego a República que estava embaixo da almofada do sofá, aquela em que ainda há pouco em babava, e vou ler.
Amanhã escrevo de novo, se vocês forem complacentes comigo!

Nota1: eu babava na almofada e não na República.
Nota2: alguém pode me explicar porque os pecados capitais são todos femininos?